domingo, 12 de julho de 2009

... pela primeira vez o sentimento impede as palavras de sairem da maneira que deveriam, estou ao mesmo tempo tão confuso e tão certo dentro de um concretismo incerto, absolutamente inconcreto sólido, pela primeira vez... pela segunda... pela terceira... e quantas vidas e palavras se façam necessárias para que eu aprenda, para que eu chore as lágrimas na hora em que elas devem cair (E ELAS DEVEM CAIR SEMPRE)... cada vez mais e pela primeira vez sempre... obrigado sempre, pela primeira vez de novo e de de de... dé, bonito, obrigado, o o o o o o o o o o bri - ga - da de di dó dú dé dale.

sexta-feira, 3 de julho de 2009


AMPUTADO

Meus olhos estão mais verdes hoje. Mais verdes que ontem. Estão cheios de maresia, cheios da minha juventude, do meu medo giratório e transmifigurativo. Mais verde do que jamais ousaram estar. Hoje eles são televisores de alta definição, de plasma sanguíneo, de glóbulos homossexuais, televisores tecnotecnotecnoprólogicamente atrás atrasados. São espectros, espectadores dos outros, fantasmas, rascunho corpóreo do próprio estado de minha mais que minha própria alma. Tenho sessenta e quatro anos de angústia. E tudo em mim se repete repetitivamente repetidamente, como se eu mesmo não pudesse me cansar de mim mesmo. Mas eu me canso. Mas eu me cansei. Cansei-me do me, do seu, do sí, do sol, do sou. Não é possível? Como não se digo que estou cheio de mim? Do verde, da pu pu pu pu pu puta pupila, da corzinha da pele, da corzinha da alma, dos neurônios infuncionais e preguiçosos. Cansei de mim só porque antes cansei-me da vida e o que é cansar-se da vida senão cansar-se de si próprio? Estou cansado de tudo e ao mesmo tempo tão ávido de oxigênio, de penetração, de nicotina e revistas de revistas. Sincronicamente dislexo, prolixo, pro lixo, pró lixo, pré e pós e pus lixo e pedra preciosissima de neón laranja fosforescente e histérico. Existe no mundo algo mais carente de atenção que neón? Sim. As estrelas, só brilham por carência, assim como eu. Mas sou carente do que, se a solidão me é tão apetitosa? Se sei que minha feliz felicidade depende só e solamente de mim? Isso é um cuspe de alívio e um cuspe de angústia, me construo para comigo destruir meus ossos, que são tão meus, e que mesmo assim não os conheço. Não sei de sua cor e espessura, nem do seu gosto de cálcio, assim como minha carne. Será mesmo que é vermelha? E se for amarela? Será mesmo que é amarga? E se dor doce como algodão doce caramelo cara de camelo cameleão caramujo cacau? Como conhecerei a mim se o que me constitui me é estranho? E se amputassem minhas pernas de forma carinhosa, juntos com meus braços, seria eu ainda eu, claro. De alta estima e competência baleados de certo, mas ainda sim eu e tudo que sou. Chega. Vou comer.