Cena do documentário "Máscaras". Atriz - Carolinie.
CENA 4 / INT / TEATRO
ATRIZ está sentada no proscênio lendo um texto.
ATRIZ – “Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em uma língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. É disto que se trata, viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas. Talvez...”
Da coxia ouve-se um “Shi!!!”, a ATRIZ vira-se e não vê ninguém, volta a ler.
ATRIZ – “Também a arte é apenas um modo de viver, e é...”
A mesma ATRIZ aparece pela coxia, meio receosa, e mais uma vez pede silêncio, dessa vez ela possui um chapéu coco e um pano sobre os ombros. Essa é sua parte mais medrosa.
ATRIZ 3 – Silêncio!
ATRIZ – Por que?
ATRIZ 3 – Não tem medo de falar?
ATRIZ – Não. Mas se quiser posso me calar.
Silêncio.
ATRIZ 3 – Fala alguma coisa! Não tem medo do silêncio?
ATRIZ – Tenho.
ATRIZ 3 – Eu também. O silêncio é realmente apavorador, mas pra nossa sorte ele nunca é
plenamente experimentado. Não nesse mundo. (T) Você tem curiosidade?
ATRIZ – Sobre o que?
ATRIZ 3 – Sobre tudo.
ATRIZ – Tenho.
ATRIZ 3 – E não tem medo disso?
ATRIZ – Tenho.
ATRIZ 3 – Eu também.
ATRIZ – Porque não senta aqui? Do meu lado?
ATRIZ 3 – Tenho medo de não conseguir me levantar depois.
ATRIZ – Faz sentido.
ATRIZ 3 – Tenho medo de você também.
ATRIZ – De mim?
ATRIZ 3 – Sim. Principalmente nos últimos tempos, você tem andado realmente assustadora.
Sorte minha que a conheço bem, caso contrário nem estaria conversando com você e então você teria que enfrentar sozinha o pavor da solidão.
ATRIZ – (p/ si) Pelo o que eu to vendo, seria um prazer experimentar um pouco de solidão hoje.
ATRIZ 3 – De tudo, a solidão é o que mais me assusta. E olha que tenho medo de muitas, muitas coisas.
ATRIZ – Ultimamente a solidão tem sido o melhor lugar para se sentar e ficar, por horas.
ATRIZ 3 – Por isso que você está assim, triste. A felicidade é a solidão compartilhada. Eu seria feliz se não tivesse medo da felicidade, da solidão e de compartilhamentos. (ela olha pro palco) Esse teatro vazio, toda essa poeira e esse ecoar eterno de aplausos que já morreram... isso assusta! O teatro é um belo monstro.
ATRIZ – É... um belo monstro...
sábado, 6 de março de 2010
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