sábado, 9 de outubro de 2010

Quanto te vi, uma árvore de frutos podres cresceu em mim. Os galhos perfuraram minhas costelas e atravessaram a pele, o sangue se esparramou pela minha barriga e alcançou os dedos dos pés. Um pequeno reluzente vermelho lago formou-se ao meu redor, onde moravam um tubarão (que comeu meu menor dedo do pé esquerdo) e um tenso jovem indefeso peixe de duas cores. Eu não me importava. O sofrimento era a minha opção enquanto o amor não dormia. Então as raízes se entrelaçaram em minhas veias e as esmagaram como cobras católicas carinhosas calculistas calcificadas. Já não podia respirar graças aos dois galhos secos que arrombavam minhas narinas, que já estavam grandes como brancas bolas de golfe. Embora tudo fosse vermelho, o que eu enxergava era de um azul infantil, porque era isso que eu era. A dor era o melhor caminho para paz. E eu só pensava que precisava honrar aquele sentimento que fora inventado por minha criança. Quando começou a nevar a árvore já não cabia em mim e, de repente, a árvore era eu. Era eu! A árvore mais triste já plantada.